FACETAS
MULTIPLAS
Uma característica dos criadores irrequietos é a capacidade de provocar sentimentos e reflexões. Nesse tipo de construção poética, a liberdade de expressão permite que o avesso das coisas possa ser colocado em foco. Por vezes, ficar insensível à experiência proposta pode ser inclusive desconcertante. Para se dar plenamente, uma obra artística precisa cumprir um ciclo que convoca a participação do espectador; nele serão produzidas novas sínteses, possível matéria-prima em suas relações com os demais cidadãos.
Vivemos tempos sombrios habitados por realidades ambivalentes.
Os espectros de polarizações e fanatismos substituem leituras complexas do mundo por escolhas maniqueístas ou pela completa indiferença
- dependendo do ponto de vista, traidores podem ser heróis e vice-versa.
Nesse contexto repleto de simplificações, equívocos históricos se repetem indefinidamente.
O espetáculo TRAIDOR, criado e dirigido por Gerald Thomas para interpretação de Marco Nanini - símbolo de uma geração de artistas brasileiros - se configura como uma espécie de celebração da condição sui generis do ator em geral, atravessado pelas peculiaridades das existências humanas, insuficientes e delirantes. É com essa diversidade de perspectivas que os públicos são convidados a se implicar para extrair suas conclusões, de acordo com seus próprios repertórios.
Coerente com sua trajetória, o Sesc reafirma o compromisso com a valorização de experiências estéticas provocativas, como uma forma de se posicionar ao lado da argumentação crítica. Por meio dessa disposição, múltiplas maneiras de ver e interagir no mundo são engendradas, estimulando reflexões e mobilizando sentimentos e ações.
Aos conformados de plantão, uma dose de dúvida e inquietação.

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