Protagonizado por Marco Nanini com direção de Enrique Diaz e produção artística de Guel Arraes. Odorico Paraguaçu, prefeito de Sucupira, lugarejo do interior baiano, protótipo interiorano, com vocação para a verborragia e demagogo por natureza, espelho do homem público de província latino-americano, tem por ideal mórbido e fixo dar à pacata e sonolenta comunidade, onde há muito ninguém morre ou algum crime é cometido, um cemitério. Para isso, no entanto, e assim satisfazer seus sonhos de grandeza, é forçoso “encontrar” um morto. E em política, declara Odorico, “os finalmentes justificam os não obstantes”.

Assim, um cangaceiro famoso ascende ao posto de delegado, um órgão de imprensa é invadido, a honra de uma esposa é maculada e ala se torna a pivô e alvo de sangrento atentado, a mentira e a calúnia grassam, tudo isso acobertado pela malícia e o cinismo do experiente politiqueiro.

A linha que cose todo o entrecho é inegavelmente a fala arrevesada e pretensiosa da figura do prefeito, que, com sua lábia, eivada de saborosos neologismos, leva no bico a tudo e a todos. Alguns exemplos de seu pitoresco e, porque não, brasileiríssimo linguajar: “esses ateístas despenitentes” , “namorismo” , “jenipapista” , “botar de lado os entretantos e partir para os finalmentes” , “caluniamento” , “prafrentemente” , “mau-caratista” , “demagogista” , “deverasmente” , “bardenistas” expressões estas que, com o impressionante êxito de O bem - amado ficaram na boca do povo. Odorico é a encarnação mesma do Brasil doutor, do deputado baiano, da cartola na Senegâmbia e o falar difícil, das promessas verbalizadas e nunca cumpridas, daquilo, enfim, que historicamente ele seguiu, em jargão modernista à “fatalidade do primeiro branco aportado e dominado politicamente as selvas selvagens” e redundou numa realidade social com suas instituições em transe, imersas no caos, a pedir sepultura, às vésperas da débâcle final.

Naturalmente, Odorico é também um ser humano em crise. O vácuo entre suas pretensões de grandeza, que comicamente se revelam na empolada linguagem, e a triste realidade de uma região, para ele frustrantemente subdesenvolvida (outrora a cidade tivera de uma só vez seis... cadáveres e a possibilidade de seis enterros: “Tempo de fartura!...” ), acentua as contradições de sua existência e da própria política que ele representa e ladinamente personifica.

Odorico, o político, o doutor, o tribuno, Odorico o grande pacificador, é, em escala provinciana, a engraçada e irônica versão de personagens bem mais sinistros da realidade política nossa e latino-americana como nos tempos de Somoza, Pinochet, Batista, Videla e outros melhor conhecidos do público brasileiro, uns mais, outros menos “simpáticos” , mas todos com o mesmo objetivo: inflar o próprio ego à custa do povo.                                           

autor
DIAS GOMES
direção
ENRIQUE DIAZ
produção artística
GUEL ARRAES
adaptação
CLÁUDIO PAIVA e GUEL ARRAES

elenco
MARCO NANINI
BEL GARCIA
CÉSAR AUGUSTO
GUSTAVO GASPARINI
MARCELO OLINTO
RAQUEL ROCHA
SUSANA RIBEIRO

stand-in
RAFAELA AMADO
elenco de apoio
PATRICK SAMPAIO
RAFAEL ROCHA
coach para Marco Nanini
MARCOS DAMIGO
assistência de direção
OLÍVIA GUIMARÃES

direção de arte e cenografia: GRINCO CARDIA
figurino: ANTÔNIO GUEDES
visagismo: ROSE VERÇOSA
iluminação: MANECO QUINDERÉ
trilha original: DJ DOLORES
fanfarra
ORQUESTRA POPULAR DA BOMBA DO HEMETÉRIO
interferências ao vivo: RAFAEL ROCHA
produção musical RJ: LUCAS MARCIER
pesquisa musical: CLÁUDIO OLIVOTTO
preparador vocal: PEDRO LIMA
corpo: DUDA MAIA
programação visual: DEBORA BENSUSAN
fotografia: FLÁVIO COLKER
assessoria de imprensa: VANESSA CARDOSO
texto release: ÂNGELO DE ALMEIDA
produção: FERNANDO LIBONATI
direção de produção: OLÍVIA GUIMARÃES
produção executiva: JONAS CALMON KLABIN
produção de base: TATHIANA MORÃO
assistente de produção: PATRICK SAMPAIO
financeiro: GEISA LIMA e ANA LÚCIA RODRIGUES

realização
PEQUENA CENTRAL DE PRODUÇÕES ARTÍSTICAS     


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